terça-feira, 19 de maio de 2009

MUDANÇAS NO VESTIBULAR


ESPAÇO ABERTODebate de idéias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT – Adufmat - nº 68/2009.VESTIBULAR NA PAUTA DO DIARoberto Boaventura da Silva Sá Dr. em Jornalismo/USP. Prof. de Literatura da UFMT rbventur26@yahoo.com.br Depois dos quatro últimos artigos sobre a perversa proposta do governo de unificar o vestibular, hoje, esperava versar sobre outro tema; afinal, além de mais essa imposição do MEC às universidades federais, muita coisa tem acontecido por cá e alhures. Cito duas: 1ª) manifestações do 1º de maio que alertaram para o aprofundamento da crise; 2ª) grosseria verbal, entre dois juízes, que expôs o STF. Ao seu Presidente - de Diamantino/MT - além de graves insinuações sobre sua moral, foi-lhe imputada uma atitude herdada de idos tempos: a relação de capangagem, que está ligada à compra/venda de diamantes por meio de capanga: tipo valentão que se coloca a serviço de quem lhe paga. Resultado da deprimente cena: sorrisos trêmulos e amarelos por parte do Presidente da Suprema Corte. Mas minha perspectiva de mudar de tema, neste artigo, não vingou, pois a Folha de São Paulo (FSP), de 29/04/09, publicou encarte de oito páginas sobre a educação, destacando os mais recentes dados divulgados pelo MEC, no dia anterior, sobre o Enem. Com isso, eu não poderia perder oportunidade de dizer que os tais dados oficiais comprovam o que venho afirmando sobre a proposta do novo vestibular, como, p. ex.: "...os pobres estão com dias ainda mais contados para o ingresso nas federais. Só entrarão pelas cotas... os ricos vão deitar e rolar. Estudantes do sul/sudeste ocuparão os espaços privilegiados. Aos de MT - pelo baixo nível da educação do Estado - só restarão universidades distantes do eixo Rio/São Paulo e cursos menos concorridos". A comprovação disso já se evidencia pelo título do encarte: "Dos 20 melhores colégios, 15 são particulares". No resumo da matéria de abertura, lê-se: "Dados do MEC mostram que melhor escola da rede pública tradicional está fora da lista dos 10% melhores do país". A referida unidade - Escola Estadual Frederico Benvegnu - localiza-se em São Domingos do Sul, a 246 km de Porto Alegre/RS. Sobre essa escola, no interior do encarte, é dito: "Com nota 60,61 (a máxima é 100), a referida escola se destacou entre as públicas, mas ficou em 1.935º lugar no ranking geral do exame (9.124 foram avaliadas)". Pronto. Se alguém duvidava, agora, o próprio MEC forneceu todos os dados para que ninguém - em sã consciência e livre de interesses pessoais - refute os argumentos contrários à imposição do novo Enem/vestibular unificado. Esses dados do MEC revelam que a educação pública de péssima qualidade ajuda a endurecer a barreira social criada contra classes economicamente subalternas; e nenhum tipo de vestibular corrigirá isso. Todavia, o MEC e os reitores de "colonial mentality" (grafei em inglês para ironizar a proposta, que é importada do império em falência) dirão que, justamente, por conta desses resultados adversos à escola pública é que há necessidade de mudança no vestibular, pois, esse é "muito conteudístico", exigindo dos estudantes muita "decoreba". O MEC e os reitores estão errados. Resta saber se por ignorância ou se por opção de classe; o que, a meu ver, é mais possível. Discursos bem articulados escamoteiam as reais intenções governistas. O fato concreto é que nenhum estudante que não domine códigos elementares - como os da língua, p. ex. - e que não detenha amplos conhecimentos culturais em seu repertório, tem condições de estabelecer pensamento crítico, como diz pretender o MEC; logo, está impossibilitado de perceber/estabelecer relações interdisciplinares, anulando, pois, o argumento central do Ministério. Querendo ou não, memorizar informações básicas é um dos primeiros requisitos a inserções mais elaboradas do pensamento. De minha parte, se eu não procurasse dominar a estrutura da língua eu não escreveria este texto; não estabeleceria críticas. Ainda bem que "decorei" muita coisa; até o uso do ponto e vírgula! Hoje, utilizo o que memorizei, articulando com outras coisas que fui aprendendo a apreciar. No mais, se nossas crianças - com a conivência de adultos - decoram letras e coreografias de músicas esdrúxulas e libidinosas, por que isentá-las de assimilar um conjunto de itens dos quais poderão lançar mão quando for preciso, como, p. ex., a tabuada, a norma padrão da língua etc? Reafirmo: de posse de um conjunto de coisas memorizadas, o caminho da crítica está aberto. Sem isso, não há caminho. Essa é uma discussão político-pedagógica de classes sociais. Isso é o que está em jogo hoje; nada mais!

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