quarta-feira, 8 de junho de 2011

KIT ANTI-HOMOFOBIA E CHANTAGENS






ESPAÇO ABERTO
Debate de idéias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT – Adufmat - nº 100/2011

KIT ANTI-HOMOFOBIA E CHANTAGENS
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciência da Comunicação/USP; Prof. da UFMT
rbventur26@yahoo.com.br

Vários são os espaços do governo que chamam os holofotes da mídia. A Casa Civil é quase imbatível. Quase, pois o MEC já está roubando muitos espaços jornalísticos e humorísticos: aberrações no ENEM, livros didáticos cheios de erros, intromissões nas universidades, imposições pedagógicas... A última – depois daquela do livro didático de “ensino” da língua portuguesa – refere-se ao kit anti-homofobia; ou seja, um material (05 vídeos, cartazes, cadernos, carta aos diretores e 06 boletins) que poderá ser distribuído por meio do programa “Escolas sem homofobia”.
Eu disse “poderá”, o que não significa “será”. Talvez tudo o que já se fez intelectualmente e se gastou em termos de recursos públicos, principalmente com a participação de ONGs bem coladas ao tema, poderá ir para gavetões do MEC. Motivo: a oposição dos religiosos, cabendo neste balaio “abençoado” os cristãos de diferentes matizes: católicos de todas as alas e salas e evangélicos de todos os quadrantes universais. Desconheço a posição dos transcendentais de tendências africanas e indígenas.
Mas gritar é legítimo numa democracia. Nada contra a posição de oposição dos religiosos. O problema é a base que sustentou o grito: a chantagem política; ou seja, os “enviados de Deus”, sem medo de estarem praticando um crime, disseram mais ou menos o seguinte: ou o governo suspende a distribuição do kit ou se abre uma CPI para o novo escândalo que envolve o velho Pallocci, que pode até ter a língua presa, mas não as mãos algemadas. O que fez a “mãe Dilma”? Suspendeu tudo, claro!
Primeira constatação: conforme seus próprios preceitos, os “religiosos” pecam ao estabelecer a chantagem. Na sequência, outra constatação: o governo, enlameado, peca por se deixar chantagear e se fragilizar em temas que lhe são caros. Enfim, a situação esdrúxula é mais ou menos essa: a luta de chantagistas e chantageados, ambos bem longe do decoro civil; quiçá, das próprias pregações religiosas e dos discursos do “politicamente correto”. Como são iguais!!!
Seja como for, de minha parte, nada afeito às transcendências, constato que as “mãos bem visíveis” de Pallocci e a conivência da Sra. Rousseff podem impedir um dos maiores absurdos num meio já afundado em aberrações. A escola não tem o menor preparo para discutir nenhum dos temas transversais, impostos pelos PCNs. A escola não tem mais sequer competência para tratar das matérias verticais e horizontais. A matemática e a língua portuguesa que o digam. O sistema está falido.
Dessa forma, o risco do tiro (que pode ser literal) sair pela culatra fica suspenso por ora. Todavia, o tema é de suma importância e precisa ser atacado, posto que a violência social tem aumentado, inclusive contra gays. Pergunto: mas se, em minha opinião, não pode ser pela escola, por quem então atacar a questão? Sugestão: pelo complexo midiático; isso faria atingir quase toda a população, e não apenas os estudantes do país.
Como se poderia fazer? Com a formação (democrática) de um conselho do qual fizessem parte profissionais de áreas diferentes, como pedagogos, publicitários, jornalistas, psicólogos, sociólogos, assistentes sociais, médicos et alii. Assim far-se-ia algo absolutamente profissional, com um discurso bem articulado e unitário (coeso e coerente), dando-lhe a abrangência social devida. E de saída, tiraria essa responsabilidade da escola, ou seja, de professores, via de regra, já sobrecarregados de responsabilidades, quando não cheios de preconceitos.