segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017
BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA - EVOLUÇÃO
EVOLUÇÃO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS: INFORMATION COMMONS
Nalin Ferreira Silveira
Resumo: Este trabalho baseou-se em estudos sobre uso da Tecnologia da Informação e Comunicação e convergência de
mídias em bibliotecas universitárias. Teve como objetivo desenhar a história da evolução das bibliotecas universitárias, até
chegar ao conceito de bibliotecas ubíquas e Information Commons. Foi observado que as Tecnologias de Comunicação e
Informação são utilizadas de maneira muito tímida e que, em geral, poucos serviços diferenciados são oferecidos aos usuários.
Este trabalho utiliza metodologia exploratória, com procedimento técnico bibliográfico e documental. Aponta as grandes
possibilidades para as bibliotecas universitárias ao aumentarem sua relação com serviços de Tecnologia da Informação e
Comunicação.
Palavras-chave: Biblioteca universitária. História das bibliotecas. Bibliotecas ubíquas. Information Commons.
1 INTRODUÇÃO
As bibliotecas universitárias são importantes produtoras de conhecimento científico, exercendo um
papel fundamental no processo de ensino, pesquisa e extensão, o conhecido tripé do Ensino Superior no
Brasil. É na universidade que se percebe com mais clareza a produção do conhecimento científico e como
este é influenciado pelo uso da tecnologia. No contexto da atual Sociedade da Informação –
extremamente dinâmica, rápida e com intenso fluxo de informações –, as tecnologias da informação e
comunicação são responsáveis por grande parte desses processos de produção e recuperação de
informações e conhecimento.
Nesse contexto, surge o Information Commons, que, apesar de ser conhecido e aplicado em
algumas universidades no exterior já há algum tempo, no Brasil ainda é um tema muito recente. Pode ser
definido como o espaço físico ou virtual onde recursos de informação podem ser acessados e utilizados.
Atualmente boa parte das bibliotecas universitárias está informatizada. O desafio, no entanto,
encontra-se em utilizar esses recursos de tecnologia da maneira mais proveitosa para a produção de
conhecimento. Diante disso, o Information Commons surge como uma forma de ampliar as possibilidades
de aprendizagem e utilização de recursos dentro da biblioteca universitária.
Nos próximos tópicos, será apresentada uma breve história das bibliotecas universitárias, até
chegarmos ao conceito de Information Commons e suas ferramentas.
2 A EVOLUÇÃO DAS BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS
Sua origem no ocidente está ligada ao surgimento das primeiras universidades na Europa,
aproximadamente no século XII. Mas o embrião desse tipo de biblioteca surge ainda antes disso, com as
bibliotecas dos mosteiros e ordens religiosas entre os séculos V e X, durante a Alta Idade Média. (Vianna,
2013). Essas ordens religiosas eram espaço de armazenamento e preservação do conhecimento, cujo
objetivo era depositar e não disseminar, mas foram elas que deram sustentação ao movimento de criação
das universidades. Um. As bibliotecas que existiam possuíam acervos fechados, as quais eram destinadas
apenas a uma minoria que frequentava os monastérios e ordens religiosas. O suporte de informação eram
os manuscritos copiados pelos monges, para uso da própria igreja.
Com a criação das primeiras universidades, o acesso ao conhecimento tornou-se fundamental, pois,
desde o seu surgimento até os dias de hoje, a forma das suas bibliotecas tem mudado consideravelmente,
mas a sua essência permaneceu a mesma: ser uma instituição capaz de oferecer acesso à informação para
apoiar professores, alunos e pesquisadores no ensino, aprendizado e pesquisa científica (VIANNA, 2013).
Sobre as primeiras universidades, Anzolin e Corrêa (2008, p. 805) descrevem:
O berço da cultura dos novos tempos encontra-se, como sempre, nas cidades. É nelas que surgiram
as instituições que, em alguns casos, preservaram suas origens medievais até hoje: as
universidades. [...] Nelas, aprendiam-se as sete artes liberais: o trivium (gramática, lógica e
retórica) e o quadrivium (geometria, astronomia, aritmética e música). Além das especialidades:
direito, medicina, teologia e a filosofia.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
70
Já foi citado que as universidades surgem ligadas à Igreja Católica, com acesso restrito inicialmente
a religiosos, e, em um segundo momento, aos poucos intelectuais que tinham acesso ao conhecimento
universitário. Essas bibliotecas, consequentemente, nascem ligadas às universidades e aos mosteiros.
Sobre a formação desses primeiros acervos, Carvalho (2004, p. 78) descreve:
Seus acervos foram sendo acumulados no decorrer do tempo pelas doações feitas por reis,
aristocratas, autoridades religiosas, professores e alunos das próprias universidades que, ao
fazerem minuciosas anotações durante as aulas, terminaram produzindo uma forma de registro do
conhecimento, pois até o século XIII o ensino era basicamente oral.
A autora também conta que o único livro disponível era o que o professor utilizava, ele lia em voz
alta para os estudantes, que tomavam notas da maneira que era possível. Esses livros de notas eram
doados às bibliotecas. Outro recurso utilizado na época eram os livreiros das universidades, também
chamados de stationarii, que faziam cópias dos livros, para quem pudesse pagar (CARVALHO, 2004).
Além da dificuldade de acesso e da censura na Idade Média e na Renascença, Anzolin e Corrêa
(2008) também descrevem outro problema recorrente na época: os furtos de livros. Para combater essa
situação, a medida tomada pelas bibliotecas é descrita por McGarry (1999, p. 114, apud CARVALHO,
2004, p. 79): “os livros mais consultados eram acorrentados na biblioteca principal; os disponíveis para
empréstimo eram guardados numa sala separada”.
O furto ainda existe, contudo é um problema de menor gravidade enfrentado pelas bibliotecas
universitárias, pois, além de os modernos mecanismos de segurança protegerem o acervo, o acesso à
informação está muito mais fácil: é possível encontrar diversas informações disponíveis gratuitamente na
web e fazer download de arquivos facilmente. Sobre essas facilidades Anzolin e Corrêa (2008, p. 306)
afirmam que “[...] a informação está acessível e praticamente toda disponível para consulta em
Bibliotecas ou centros de documentação, onde o acesso às estantes é livre, sem falar dos documentos que
estão disponíveis na rede mundial de computadores [...]” - um panorama bem diferente do que existia
antigamente.
A passagem da Idade Média para a Idade Moderna foi impulsionada pelo movimento renascentista,
que causou importantes mudanças sociais e culturais. Carvalho (2004, p. 79) afirma que “esse contexto de
transformações também atinge as bibliotecas que iniciam o desenho de seu sentido moderno, juntamente
com o livro que adquire seu significado social”.
Seguindo o curso da história, Gutenberg, no século XV, com a prensa, inicia um processo que se
mantém acelerado até os dias de hoje, que é o aumento da tiragem e diminuição do custo de fabricação do
livro, presumindo um aumento, também, na quantidade de leitores. Como afirmam Crespo, Rodrigues e
Miranda (2006, p. 3), “o crescimento editorial gerou, entre outras questões, a ampliação de acervos em
bibliotecas e a criação de muitas outras, trazendo como consequência, uma maior transferência de
informação para a sociedade”. Com esse aumento, as bibliotecas têm condições de proporcionar aos
usuários maior acesso à informação.
No século XVII surgiram os periódicos, para suprir a necessidade de comunicação científica diante
da lenta velocidade da produção editorial. Até hoje, mesmo que o formato tenha evoluído bastante, ainda
é o meio mais utilizado por cientistas e pesquisadores para ter acesso a informação mais atualizada.
Com a Revolução Francesa, no século XVIII, aumentaram as formas de produção e divulgação do
saber científico e de registro desse saber. Foi nesse período que surgiu o movimento dos Enciclopedistas,
que buscavam catalogar todo o conhecimento humano na Encyclopédie. Surgem também as primeiras
bibliotecas especializadas:
As Bibliotecas, devido às condições específicas como a fragmentação do conhecimento, e,
também, a impossibilidade espacial e financeira de reunir em um único espaço toda a informação
registrada disponível, são divididas em vários tipos, como: universitárias, públicas, especializadas,
escolares, infantis, a exemplo. Cada uma delas com características específicas de acordo com o
público e comunidade a que serve. (ANZOLIN; CORRÊA, 2008, p. 806).
No final do século XIX e início do século XX, surgem as grandes bibliotecas no mundo, com
acervos enormes de coleções de livros. Prédios foram construídos especialmente para abrigar esses
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
71
acervos, e todo esse material foi organizado para ser disponibilizado ao público. Finalmente, as
bibliotecas passam de “acesso fechado”, que era a prática comum até então, para “livre acesso às
estantes”.
No século XX, a evolução tecnológica causa grandes mudanças na estrutura das bibliotecas:
Em meados do século XX, as mudanças sociais aliadas à progressiva expansão e fragmentação do
conhecimento, bem como o avanço tecnológico levam a outra fase de evolução em que a
preocupação com o “tipo” de Biblioteca [...] tende a desaparecer. Este padrão seria substituído por
uma grande diversificação dos serviços e produtos; e também pela diversificação dos suportes
informacionais disponíveis. As palavras de ordem nesse período são: flexibilidade,
adaptabilidade, interdependência e cooperação. No final desse século surge uma nova
configuração de Bibliotecas, as virtuais/digitais. (ANZOLIN; CORRÊA, 2008, p. 806, grifo
nosso).
Durante esse século, o conhecimento passou de fragmentado para global. O paradigma inicial era a
especialização, com o passar das décadas, passou-se a buscar o conhecimento interdisciplinar.
Para atender essa demanda social, não bastava as bibliotecas oferecerem um acervo diferenciado
para seus usuários, elas também deveriam oferecer serviços e produtos especializados, em suportes
diversos para facilitar o acesso. No século XX, com o advento da Internet e das Tecnologias de
Informação e Comunicação, especialmente nas bibliotecas universitárias, a disseminação do
conhecimento se tornou mais fácil, exigindo das bibliotecas e dos profissionais uma adaptação aos novos
conceitos, trazendo a necessidade de um posicionamento convergente com as mudanças, de maneira a
ampliar seu espaço de atuação. Por isso, estas palavras estão grifadas na citação de Anzolin e Corrêa:
flexibilidade, adaptabilidade, interdependência e cooperação.
Agora, no século XXI, a tecnologia aliada às bibliotecas é uma realidade indiscutível. O uso das
Tecnologias de Informação e Comunicação “não poderia ser diferente nas universidades e suas
bibliotecas. Assim, nas bibliotecas, consequentemente, essas mudanças são visíveis na forma de atuação e
prestação de serviços”. (ANZOLIN; CORRÊA, 2008, p. 806).
É importante registrar que a biblioteca universitária sempre acompanhou as mudanças sociais,
mudando seus paradigmas e adaptando-se às diversas ocasiões, passando de depósitos – quase cofres – do
conhecimento para se tornarem espaços do saber, de compartilhamento e de disseminação da informação:
Durante seu percurso, sempre estiveram envolvidas num processo de vencer desafios gerados por
mudanças significativas em suas funções. Fatores como: invenção da técnica de impressão;
crescimento do volume e a da importância da informação; adequação às tecnologias da
informação e comunicação; reconhecimento da importância do compartilhamento de recursos e do
valor dos documentos não impressos; e a busca da informatização dos seus serviços e produtos
tem levado as bibliotecas universitárias a buscar formas mais apropriadas para seu gerenciamento
[…] e para o atendimento de seus usuários. (CARVALHO, 2004, p. 79).
Essas diversas etapas passadas representam o amadurecimento da instituição e sua relação com a
socialização do conhecimento. Macedo e Modesto (1999, p. 40) relembram que “manifestações diversas
de registros aconteceram sempre, de acordo com preocupações do homem de cada época civilizatória,
utilizando-se os suportes materiais peculiares à tecnologia de então”. Nesse processo, a biblioteca deixou
gradativamente de ser uma depositária de publicações e um local onde se encontram livros para leitura
para se tornar uma ferramenta fundamental para a pesquisa universitária, disponibilizando informações
em diversas mídias e formatos, como ocorre nos dias de hoje. Cunha (2000, p. 73) compactua com essa
ideia:
Na universidade, a preservação do conhecimento é uma das funções que menos rapidamente
mudam. [...] Através dos séculos, o ponto focal da universidade tem sido a biblioteca, com o seu
acervo de obras impressas preservando o conhecimento da civilização. Atualmente, esse
conhecimento existe sob muitas formas: texto, gráfico, som, algoritmo e simulação da realidade
virtual e, ao mesmo, ele existe literalmente no éter, isto é, distribuído em redes mundiais, em
representações digitais, acessíveis a qualquer indivíduo e, com certeza, não mais uma prerrogativa
de poucos privilegiados da academia.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
72
Fica claro, dessa forma, como a biblioteca universitária mudou para melhor ao longo do tempo,
refletindo as mudanças sociais e buscando, cada vez mais, atender o seu usuário.
Michelângelo Vianna (2013, documento eletrônico) resume em três grandes períodos a evolução
das bibliotecas universitárias. O primeiro é a Biblioteca Tradicional, que inicia com as primeiras
universidades no século XII e vai até o início da automação, no século XX. O foco estava no acervo, na
sua preservação e ordenação. O empréstimo era feito em fichas, e o catálogo também era impresso ou em
fichas, além de só poder ser consultado dentro da biblioteca. Todos os processos eram manuais e
precisavam do suporte em papel para serem realizados.
O segundo período é o da Biblioteca Automatizada, o qual inicia e termina no século XX. Este é o
momento dos catálogos on-line. O empréstimo é automatizado e o acervo está disponível na forma
impressa e virtual. O foco principal desse período é reduzir o trabalho manual, automatizando os
processos.
Finalmente, o terceiro e último período começa a partir do século XXI, e é chamado de Biblioteca
Ubíqua1
e de Uso Autônomo, com o surgimento das U-Library (Ubiquitous Library) ou M-Library
(Mobile Library).
Esse período é caracterizado pelo uso de softwares para adquirir, localizar emprestar e acessar a
informação de forma local ou remota, e por direcionar o foco para a informação, formas de acesso on-line
e, principalmente, para a autonomia dos usuários no que se refere à pesquisa e à produção de
conhecimento. O catálogo evoluiu, e agora é possível pesquisar e ter acesso on-line a qualquer acervo
disponível, tornando a biblioteca acessível em tempo integral.
Bibliotecas ubíquas são espaços sem barreiras de tempo ou espaço, são acessíveis em tempo
integral. Fazem uso de dispositivos móveis para oferecer serviços, além disso, o usuário pode acessar o
site e o catálogo de qualquer lugar e ter acesso a uma diversidade de materiais.
Para isso, serão utilizadas as ferramentas do século XXI, como tablets, celulares, e-books, e redes
sociais, ferramentas estas que permitem ao usuário estar conectado 24x7. Sendo assim, as bibliotecas
também devem buscar meios para garantir que o acesso seja através de um acervo virtual, serviços on
line, ou mesmo com o tradicional catálogo. Esta é a nova missão da biblioteca universitária: tornar
absolutamente ubíquos e pervasivos o acesso à informação, a comunicação e a aquisição de
conhecimento.
Por meio dos dispositivos móveis, à continuidade do tempo se soma a continuidade do espaço: a
informação é acessível de qualquer lugar. É para essa direção que aponta a evolução dos
dispositivos móveis, atestada pelos celulares multifuncionais de última geração, a saber: tornar
absolutamente ubíquos e pervasivos o acesso à informação, a comunicação e a aquisição de
conhecimento (SANTAELLA 2010, p. 19).
Sabe-se que o grau de desenvolvimento tecnológico nas bibliotecas universitárias no Brasil é muito
desigual, mas é inegável a necessidade de atualização e modernização, para que se mantenham atuantes e,
principalmente, para auxiliar o usuário a produzir conhecimento técnico e científico.
Uma possibilidade para isso é a aplicação do conceito de Information Commons. Trata-se de
convergência de mídias aplicada a bibliotecas universitárias, com o intuito de oferecer novos serviços a
seus usuários. Pode-se afirmar que o uso de ferramentas de ubicidade é na verdade uma das aplicações do
Information Commons, como explicam Furnival e Gracioso:
A ideia atual é a de se vincular o conceito de biblioteca ao de portal de acesso de construção de
informação e conhecimento, sendo os profissionais da informação os seus promotores e
divulgadores. Este cenário já pode ser encontrado em diferentes cidades do mundo, como a
1 O termo ubíqua significa aquilo que está todo o tempo, em toda a parte, onipresente. Vem do termo Ubiquitous
Computing, ou Computação Ubíqua, também chamada de Computação Pervasiva ou Inteligência Ambiental. Refere-se à
tecnologia de computador existente a nossa volta, em diversos dispositivos, integrada de tal forma que não seja percebida por
quem a utiliza. Ela acontece de forma tão automática, que acaba não sendo notada, ainda que seja possível comprovar,
através de um dispositivo qualquer. Ela envolve a utilização de computação móvel e computação pervasiva, que é justamente
essa “invisibilidade” do recurso.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
73
biblioteca da Universidade de Sheffield, na Inglaterra, e no Brasil, a Biblioteca de São Paulo, [...].
A característica principal deste novo espaço, atualmente denominado Information Commons, é a
provisão de TICs por todo o prédio, sendo o profissional da informação o responsável por prover,
junto a uma equipe interdisciplinar, as articulações e organizações necessárias entre conteúdos,
tecnologias e demandas de usuários. Este novo modelo, somado a outras características, é que
pensamos poder articular e sintonizar com o surgimento das M-bibliotecas (FURNIVAL,
GRACIOSO, 2011).
Essa é uma possibilidade nova no contexto brasileiro, que permite repensar alguns paradigmas em
relação a bibliotecas universitárias, principalmente no que diz respeito ao seu uso, acesso e provimento de
serviços. A principal novidade que o Information Commons traz é que os serviços são oferecidos ao
usuário de forma integrada com outros setores da universidade, para que ele passe o maior tempo possível
dentro da biblioteca, produzindo e adquirindo conhecimento. Sendo assim, as bibliotecas universitárias
precisam oferecer para docentes e discentes mais opções de pesquisa, em fontes e formatos variados.
Cada estágio da evolução da Sociedade da Informação traz novas possibilidades de utilização das
ferramentas da Tecnologia da Informação e Comunicação. Acompanhando essa tendência, surgiu o
conceito de Information Commons.
3 A NOVA BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA E O INFORMATION COMMONS
As transformações tecnológicas têm consequências e impactos diretos que podem ser percebidos
com clareza no contexto das bibliotecas universitárias: temos o aumento do fluxo de informações, a
fluidez das relações interpessoais, a automatização de diversos processos e produtos, a quebra de
paradigmas e o surgimento de novos conceitos como a globalização e as tecnologias da informação. Essa
sociedade que surge não somente valoriza a informação e o conhecimento, mas também os reconhece
como essenciais.
Dentro dessas transformações, os processos organizacionais também sofrem mudanças. Trata-se na
verdade de uma reestruturação para se adequar a esse novo momento histórico. As bibliotecas
universitárias percebem e passam por essa reestruturação, tanto quanto qualquer outra organização que
pretenda se manter atuante nos dias de hoje. Segundo Santos e Andrade (2008), os padrões para
bibliotecas universitárias devem estar baseados no novo e no flexível. Elas devem utilizar as ferramentas
disponíveis pelas tecnologias de informação e comunicação para desempenhar uma das suas funções
primordiais que é disponibilizar informação técnica e científica.
Nesse contexto, o suporte da informação evoluiu, o papel deixou de ser protagonista, e os formatos
eletrônicos vêm sendo preferidos pela academia. Entretanto, a grande missão da biblioteca universitária
continua sendo a mesma: aproximar produtores e consumidores de conhecimento. Fazer a mediação entre
o pesquisador e o usuário da informação, incentivando, cada vez mais, a autonomia entre esses dois
agentes.
A tecnologia mudou [...], mas a proposta das universidades continua a mesma: oferecer acesso à
informação para apoiar professores, alunos e pesquisadores no ensino, aprendizado e pesquisa
científica (VIANNA, 2013, documento eletrônico).
Como afirmam Ferreira e Costa, “diante da avalanche de informações que existe na rede, o papel da
biblioteca acadêmica deve ser filtrar essas informações para economizar o tempo do usuário.”
(FERREIRA; COSTA, 2010, p.8), não apenas filtrar informações relevantes, mas também oferecer
serviços que permitam que ele mesmo possa selecionar essas informações e fazer uso delas.
Além de meios e recursos, é preciso oferecer ao usuário a oportunidade de fazer suas pesquisas com
autonomia. O bibliotecário é um facilitador nesse processo, deve estar disponível para auxiliar, por isso é
fundamental que a biblioteca mantenha canais de comunicação como chats, e-mail ou formulários no site.
Nesse processo, a atitude do bibliotecário torna-o mais uma ferramenta do Information Commoms.
Sobre Information Commons, a University of Sheffield (2012, documento eletrônico, tradução
nossa) comenta:
A Information Commons é uma associação entre os Serviços de Informática e da Biblioteca
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
74
Universitária. Nasce do pensamento completamente novo sobre recursos de aprendizagem para o
aluno do século XXI, ele contém uma série de espaços de estudo em um único prédio espetacular.
Além da estrutura física, existe a oferta de serviços e recursos de informação. Sobre os recursos
oferecidos, Loyola University (2012, documento eletrônico, tradução nossa) explica:
O suporte está disponível através de uma variedade de meios, incluindo: auxílio à pesquisa e
tecnologia, consultas individuais com especialistas no assunto, trabalho de pesquisa e workshops
ocasionais de interesse especial.
As universidades internacionais que já possuem serviços de Information Commons oferecem a seus
alunos, além dos serviços tradicionais, serviços de suporte e apoio à pesquisa e à aprendizagem. Para
implementar esse apoio, também são oferecidos uma ampla variedade de equipamentos e recursos de
tecnologia, tais como: estações de trabalho, empréstimo de notebooks, laboratórios de mídia, serviços de
assistência a computadores portáteis pessoais, scanners, impressoras, copiadoras, acesso à rede sem fio e
sala de estudo individuais e coletivas.
Mas não se trata apenas de assegurar recursos tecnológicos, o conceito refere-se também às relações
entre os criadores e usuários da informação, existindo interação e troca de conhecimento. Segundo o
Escritório de Política de Tecnologia da Informação, pertencente a American Library Association, a
principal função do Information Commons é:
(…) assegurar o livre acesso às ideias e a oportunidade de usá-las. Estes commons caracterizam-se
por valores e leis, organizações, física e infraestruturas de comunicação, recursos e práticas sociais
que promovam o compartilhamento, comunidade e liberdade de informação. (AMERICAN, 2011,
documento eletrônico, tradução nossa).
Os serviços oferecidos por bibliotecas que aplicam Information Commons podem contribuir para
facilitar a vida acadêmica de seus usuários e certamente trarão vantagens à vida pessoal e profissional
futura deles. Além do que foi apresentado, também são oferecidas formas variadas de contato com a
biblioteca, seja como suporte para dúvidas ou como divulgação dos recursos e serviços. Existe um
trabalho intenso do bibliotecário de referência, ou seja, acima de todos os recursos de tecnologia,
encontrou-se um profissional presente e atuante, que corresponde às expectativas e às necessidades dos
usuários. Nessa perspectiva, Macedo e Modesto (1999) alertam para a necessidade de compreender as
peculiaridades dos usuários, como uma forma de qualificar e personalizar o atendimento.
Os mesmos autores afirmam também que o bibliotecário deve “participar de reuniões, tomando
conhecimento do currículo, projetos de pesquisa [...], integrando-se ainda aos setores de informática e aos
vários departamentos para colaborar em comissões e grupos de trabalho institucionais” (MACEDO;
MODESTO, 1999, p. 49). Para que isso ocorra, são necessários bibliotecários atualizados e atuantes. De
nada adianta um bom acervo se não houver um profissional preparado para atender à demanda dos
usuários.
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Passaram-se muitos anos de história para que as universidades e as bibliotecas universitárias
chegassem aonde se encontram hoje, nesse modelo que se preocupa mais com as necessidades do usuário
do que com o suporte informacional. Mas ainda existe um longo caminho a percorrer.
As bibliotecas universitárias internacionais que utilizam Information Commons conseguem suprir as
necessidades dos usuários de maneira muito mais eficiente, oferecendo serviços variados e recursos de
tecnologia; acompanharam a evolução da Sociedade da Informação e buscaram formas de qualificar o
atendimento.
A figura do bibliotecário é extremamente importante no processo de transformação pelo qual as
bibliotecas universitárias brasileiras devem passar para se adaptar a essa nova sociedade. É o profissional
que vai garantir ao usuário novas possibilidades de criação e pesquisa além de uma otimização dos
serviços. Percebe-se que Information Commons vai além de apenas disponibilizar tecnologia, esse recurso
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014.
75
também destaca o papel do bibliotecário no processo de pesquisa.
Bibliotecas universitárias não são apenas espaços de pesquisa e leitura, podem ir além desse rótulo,
promovendo a troca de conhecimento, reuniões, atividades em grupo ou, então, apenas um lugar para o
estudante passar algum tempo. Um dos objetivos do Information Commons é que o usuário passe o maior
tempo possível dentro da biblioteca, pois a biblioteca é vista como um espaço de convivência.
As bibliotecas universitárias brasileiras tendem a modernizar o empréstimo e processamento
técnico, mas não costumam ousar no que se refere a serviços.
As possibilidades são imensas, requerem suporte financeiro e apoio de profissionais de outras áreas,
principalmente da informática. As bibliotecas precisam se adaptar a essa nova realidade por de duas
atitudes principais: incluir serviços de Tecnologia da Informação e Comunicação e aumentar as formas de
comunicação com os usuários. Afinal, são eles que estão ditando essa mudança.
REFERÊNCIAS
AMERICAN LIBRARY ASSOCIATION. Information Commons Project 2002-04. [S.l.]: ALA, 2011.
Disponível em: .
Acesso em: 15 out. 2012.
ANZOLIN, Heloisa Helena; CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira. Biblioteca universitária como mediadora na
produção de conhecimento. Diálogo Educacional, Curitiba, v.8, n.25, set./dez. 2008. Disponível em:
. Acesso em: 24 nov. 2012.
CARVALHO, Isabel Cristina Louzada. A socialização do conhecimento no espaço das bibliotecas
universitárias. Rio de Janeiro: Interciência, 2004.
CUNHA, Murilo Bastos. Construindo o futuro: a biblioteca universitária brasileira em 2010. Ciência da
Informação, Brasília, v.29, n.1, jan./abr. 2000.
FERREIRA, Sarah Lorenzon; COSTA, Maria Cristina Castilho. A biblioteca na cultura digital: tendências
e perspectivas visando um ambiente mais interativo. In: SEMINÁRIO NACIONAL DE BIBLIOTECAS
UNIVERSITÁRIAS, 16.; SEMINÁRIO INTERNACIONAL DE BIBLIOTECAS DIGITAIS, 2., 2010.
Rio de Janeiro. Anais eletrônicos... Rio de Janeiro: UFRJ, 2010. Disponível em:
. Acesso em: 21 out. 2012.
FURNIVAL, Ariadne Chloe; GRACIOSO, Luciana de Souza. M-libraries e Information Commons: novos
espaços, novas práticas. Revista Geminis, São Paulo, v. 2, n. 1, p.86-105, jan./jun. 2011.
LOYOLA UNIVERSITY CHICAGO. Richard J. Klarchek Informação Commons. Chicago: Loyola
University, 2012. Disponível em: . Acesso em: 01 fev. 2014.
MACEDO, Neusa Dias de; MODESTO, Fernando. Equivalências: do serviço de referência tradicional e
novos ambientes de redes digitais em bibliotecas. Revista Brasileira de Biblioteconomia, São Paulo,
v.1, n.1, 1999.
SANTAELLA, Lucia. A aprendizagem ubíqua substitui a educação formal? Revista de Computação e
Tecnologia da PUC-SP, São Paulo, v.2, n.1, 2010.
SANTOS, Ana Rosa dos; ANDRADE, Marcos Vinícius Mendonça. Padrões espaciais em bibliotecas
universitárias no contexto da sociedade do conhecimento: revendo para adequar. In: SEMINÁRIO
NACIONAL DE BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS, 15., 2008. São Paulo. Anais eletrônicos... São
Paulo: UNICAMP, 2010. Disponível em:
. Acesso em: 21 out. 2013.
Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v.19, n.1, p. 69-76, jan./jun., 2014
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário
DEIXE SEU COMENTÁRIO