terça-feira, 15 de junho de 2010

Livro digital pode democratizar a leitura, mas muda a indústria do livro






Livro digital pode democratizar a leitura, mas muda a indústria do livro

Especialistas atribuem papel fundamental aos
professores para incrementar a leitura e vêem no livro
digital uma oportunidade de disseminação do conhecimento,
mas que traz impactos para a cadeira produtiva


Os universitários estão lendo menos? Como estimular a
leitura? O livro digital ameaça as editoras e sugere o
desaparecimento do livro tradicional? Ou há novas
possibilidades de negócios na cadeia do livro? Estas
foram apenas algumas das questões discutidas durante a
XXIII Reunião Anual da Abeu (Associação Brasileira das
Editoras Universitárias) que reuniu, na sede da
Fundação Editora da Unesp, em São Paulo, entre os
dias 7 e 10 de junho, profissionais do mercado editorial
e acadêmicos para reflexão sobre a leitura na
universidade e o livro digital.

Segundo Eliana Yunes, da Cátedra Unesco de Leitura
(PUC-RJ), pesquisa realizada com universitários revela
que o índice de leitura dos estudantes é baixíssimo ao
ingressarem na universidade, mas, ao saírem, há uma
melhoria significativa, da ordem de 20%. Um aspecto
fundamental levantado pela especialista é o papel dos
professores como mediadores da leitura, "ensinando os
alunos a lerem os textos, destrinchando-os, articulando-
os, correlacionando os conhecimentos".

Outro fator identificado como estimulante é o acesso aos
bens. Nesse sentido, "a internet configura-se como um
instrumento facilitador", afirma Yunes, ressalvando,
entretanto, que não é neste espaço que se forma um
leitor. "A universidade pode formar novos e perenes
leitores, mas cabe ao professor perceber e trabalhar a
heterogeneidade de seus alunos", referendou João Luiz
Ceccantini, professor do curso de Letras da Unesp,
câmpus de Assis e vencedor do Prêmio Jabuti 2009, com o
livro Monteiro Lobato: livro a livro. Carlos Erivany
Fantinati, docente no mesmo câmpus, reiterou a
importância de o professor exercitar a explicação de
texto que, para ele, "não se trata de apenas elencar seus
elementos constitutivos, mas sim de identificar os elos e
liames entre esses elementos", tornando a leitura um
desafio permanente.

Para o filósofo Pablo Ortellado, professor da USP,
a digitalização do livro tem um impacto fundamental na
difusão do conhecimento entre classes sociais, que antes
não conseguiriam adquirir os livros. A renda familiar de
muitos estudantes é inferior ao valor da bibliografia
solicitada em cursos universitários. Sem a digitalização
deste conteúdo, eles não teriam uma formação adequada,
como explica Ortellado, que também é coordenador do Grupo
de Pesquisa em Políticas Publicas para o Acesso à
Informação (GPOPAI). "Podemos fazer um comparativo com a
indústria fonográfica, que precisou se reinventar após a
digitalização da música. Eles utilizam a disseminação de
arquivos em MP3 para divulgar o produto. E seu modelo de
negócio passou por reestruturações", diz Ortellado, para
quem as editoras deverão repensar seus modelos de
negócios.

Segundo dados do Observatório do Livro e da Leitura, pelo
menos 3% dos leitores brasileiros são adeptos de mídias
digitais (dados de 2008). "O livro digital veio para
ficar", afirmou o diretor da entidade, Galeno
Amorim. Nesse sentido, Flávia Garcia Rosa,
presidente da Abeu, foi enfática ao afirmar que "os
professores universitários devem estar atentos aos
desafios e possibilidades deste novo cenário".

Ainda não há números oficiais sobre a venda de conteúdo
digital no Brasil, mas estima-se que cerca de 7 milhões
de habitantes baixem livros diariamente pela internet e,
destes, a maioria é jovens de 14 a 17 anos. Segundo o
secretário Municipal de Cultura de São Paulo, Carlos
Augusto Calil, há um esvaziamento nas bibliotecas de
universidades, pois "os alunos preferem pesquisar na
internet a buscar livros na biblioteca".

Mudanças no mercado editorial - Se de um lado há uma
perspectiva de ampliação de acesso aos bens culturais, o
livro digital impõe novos desafios para a indústria
livreira. Durante a reunião, alguns participantes
expuseram suas primeiras experiências com o livro
digital. No caso da Imprensa Oficial de São Paulo,
Hubert Alquéres, presidente da entidade, diz ter
ficado muito surpreso com a quantidade de downloads e
revelou que "algumas pessoas que baixam o livro, depois
de ler, procuram o exemplar em papel, o que vai na
contramão da ideia de que o digital substitua o
tradicional".

Já o editor executivo da Editora Unesp, Jézio Hernani
Bomfim Gutierre, contemporiza: "O e-book não deve ser
considerado uma salvação para a difusão e tampouco o fim
das editoras."

Experiência espanhola - Dentre os estrangeiros,
Antonio Ávila Álvarez, diretor executivo da
Federación de Grêmios de Editores de España, e Inés
Miret, diretora da Neturity/Madri, apresentaram uma
pesquisa sobre o impacto da digitalização no catálogo,
canais de distribuição e vendas e políticas de preços na
Espanha. Algumas constatações: por lá, os editores já
admitem uma queda no preço de capa, para o formato
virtual, entre 30% e 50%. E a aposta é que em oito anos a
receita com a venda de livros digitais ultrapasse o
volume de vendas de livros impressos em papel.

Dados da Fundação Germán Sánchez Ruipérez apontam que,
naquele país, dos 50 primeiros livros mais visitados da
Biblioteca Hispânica Digital, 40 são novos. "Até o fim de
2010, esperamos disponibilizar na rede cinco mil
títulos", diz Álvarez.

Para o diretor presidente da Editora Unesp, José
Castilho Marques Neto, o encontro representou um
marco para que as editoras universitárias se situem em
relação ao que está acontecendo."Ninguém tem certeza do
que virá daqui para frente, mas essa é uma discussão
substantiva que nos dá maior tranquilidade para buscar
novos caminhos", disse. A Editora Unesp lançou, neste
ano, uma primeira coleção de livros digitais, com acesso
totalmente gratuito e disponível para download em
www.culturaacademica.com.br. Mais de 35 mil downloads
foram feitos em menos de três meses.Editora UNESP

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