domingo, 19 de agosto de 2012

SILVIO SANTOS POR MARCELO TAS

DO RIO
É com carinho que Marcelo Tas fala sobre Silvio Santos. “O Silvio é o primeiro grande comunicador que eu vi ao vivo, minha mãe me levou para ver quando eu era criança, no auditório da TV Tupi, no fim dos anos 60. Ele é o cara que eu acompanho há mais tempo como telespectador e, depois como profissional”, diz o jornalista e apresentador do “CQC”.
Ele falou com a Folha sobre a fase atual de Silvio Santos, que tem gerado momentos engraçados, bizarros e polêmicos –vários deles acabam sendo usados por Tas no “Top 5″ de seu programa na Band.
O apresentador do “CQC” diz admirar as habilidades de SS como comunicador e sua “capacidade de tirar leite de pedra”, algo que vem desde sua origem como camelô, durante a infância no Rio. “Na rua, para você prender a atenção das pessoas, tem de ser muito bom de gogó. E é o que ele faz, ele pega uma coisa e você não consegue parar de olhar, mesmo sem nada estar acontecendo.”
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O que está acontecendo com Silvio Santos atualmente?
Marcelo Tas -  Eu acredito que, quando a gente vai ficando velho, nos aproximamos da criança que fomos. Acho que é isso que está acontecendo com o Silvio, o que é muito saudável. A diferença é que ele é o dono do canal, então ninguém vai dizer para ele não fazer isso. Para a gente, é muito divertido, mas, ao mesmo tempo, é uma coisa que às vezes é muita constrangedora para ele próprio. Esse episódio da calça [em que as calças do apresentador caíram durante o programa], eu até achei que ele tinha montado isso, porque ele é muito esperto. O programa está sem assunto, ele vai lá e ‘pum’, a calça cai e vira assunto. Mas eu estive com a Patricia [Abravanel] recentemente, e ela me confirmou que a calça caiu mesmo e ele não percebeu. Eu acho uma coisa tocante, bonitinha, ele está velhinho mesmo.
E episódios como o do “vou dar o rabo”, que você colocou no “Top 5″ do “CQC”?
Sinceramente, eu acho que ele está gagá. Mas falo isso com carinho, o mesmo carinho com que eu falo da minha avozinha, que ficou muito gagá. Creio que a gente tem um afeto por esse estado das pessoas que vão ficando mais velhas. O que eu acho que é importante é ele continuar rindo dele mesmo. Por isso lá no “CQC” eu faço questão de falar dele com carinho, porque todos vamos chegar aí. A diferença é que ele é o Silvio Santos, o dono do canal. Se fosse eu, nessa idade, falando essas barbaridades, o Johnny Saad [presidente do Grupo Bandeirantes] ia chegar para mim e falar “peraí, Marcelo, não pode falar isso no ar”. No caso dele, ele é o dono do canal, e é um cara muito crucial para o SBT. Silvio Santos é o SBT, e ele é muito lúcido nesse aspecto. Ele usa o que sabe fazer para a emissora dele continuar na vice-liderança. [Mesmo] com toda a grana que a Record colocou contratandoprofissionais etc. e tal, o Silvio Santos consegue manter a vice-liderança. No fundo, ele é um gênio, ninguém pode negar.
Às vezes, algumas piadas esbarram na grosseria, são agressivas com os convidados. Não deveria haver algum limite?
Mesmo sob esse aspecto, creio que o Silvio tem um crédito enorme com o público. Um cara que está há 50 anos fazendo televisão e grande parte ao vivo, onde ele está ali com a cara na frente da câmera o tempo todo, imagina o crédito que ele não acumulou para esses escorregões. Ele tem anos de televisão, levando um entretenimento que eu diria que é até ingênuo. Ele sempre fez esse entretenimento da família, do domingo, despretensioso. É como diz a música dele, ‘do mundo não se leva nada/vamos sorrir e cantar’. O tema dessa música diz muito sobre esse estado atual dele, ele está vivendo plenamente isso. Está num momento de ápice da carreira e da empresa que ele criou. A única coisa que eu vejo com uma certa tristeza no Silvio é que ele não está deixando uma cultura televisiva.
Em que sentido?
Ele não tem um sucessor, não como pessoa física, mas como pessoas jurídica. O SBT não criou uma cultura de telejornalismo, ou mesmo de humor e de entretenimento. Qual é o legado do Silvio Santos, a não ser ele próprio, o que ele fez? Você pode não gostar, mas a Globo tem uma cultura de jornalismo, de teledramaturgia, não depende de a, b ou c. A Band é a mesma coisa, tem uma cultura de telejornalismo, de esporte, agora de humor. Isso é o que eu chamo de cultura televisiva. E o SBT não conseguiu isso. Mesmo o que existe hoje lá é resultado de outras iniciativas pessoais, como “A Praça É Nossa”. O jornalismo já teve Boris Casoy, Serginho Groissman, Jô Soares, Marilia Gabriela, mas não deixou um legado televisivo. Essa é a falha trágica do Silvo, para mim. Ele é um gênio como comunicador, mas, na minha opinião, não conseguiu transmitir esse legado de gênio da comunicação para a pessoa jurídica dele.
E como você vê o processo que ele moveu recentemente contra o “Pânico”, para que eles não o imitassem mais nem se aproximassem dele?
Olha, não é cara dele. Ele sempre tratou com muito bom humor essas brincadeiras com ele, tanto as do “Pânico” quanto as do “CQC”. Eu creio que isso deve se dissolver, deve ter sido um dia infeliz, não acho que seja muito da natureza dele. Quero crer que foi um dia em que ele acordou com o pé esquerdo, ele é um cara bem humorado, sempre tirou de letra essas coisas. Até porque é evidente que a imitação é uma homenagem. O “Pânico” levou o Silvio para uma geração que nem o conhecia, essa molecada da internet.
 
 




 

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