Políticas do Empobrecimento

Políticas do Empobrecimento

Certa vez, o polêmico Nelson Rodrigues disse que toda unanimidade é burra. Aplicada a determinados contextos, a frase seria um tanto errônea. Contudo, no contexto educacional, quando essa unanimidade é unânime em ser pobre, teríamos de concordar com Nelson, pois há muita gente apoiando Políticas que impedem o desenvolvimento da Educação. Cada vez mais observamos um grande número de estudantes saindo das escolas sem preparação para faculdade ou para exercer as responsabilidades de cidadão consciente. Bem sabemos dos inúmeros problemas que nossa Educação Pública enfrenta: falta de estrutura mínima para um bom desempenho; escolas com problemas gravíssimos de infra-estrutura; ausência de verbas etc.

Além desses “buracos”, a Educação ainda enfrenta outro tão grave quanto, que não é restrito à escola pública: as novas Políticas Pedagógicas implementadas pelas gestões públicas. Diria que o chamado Construtivismo e as novas Orientações Curriculares representam um dos maiores perigos para nossos alunos e para o tão propalado futuro do país. Baseadas nas teorias pedagógicas do Construtivismo e outras, as orientações pedagógicas criadas para o Estado de Mato Grosso requisitam que professores de Língua Portuguesa e Literatura trabalhem com textos oriundos do mundo de leitura do aluno, mundinho esse bastante limitado na maior parte dos casos, e em outros praticamente inexistentes. Essa linha de Política Pedagógica adotada no país há algum tempo, antes indireta e agora diretamente, já tem apresentado seu índice negativo. Alunos que não sabem sequer a ler, escrever, as operações básicas, e cursando o ensino médio por meio do enquadramento por idade previsto pela Escola Ciclada. O estado aderiu à escola organizada por Ciclos de Formação Humana e ela não tem realizado a tarefa. Além dos problemas teóricos que possui, o Estado não oferece uma estrutura necessária para seu funcionamento.

No que se refere ao caso da disciplina de Língua Portuguesa, as falhas espalham-se pelos textos escritos pelos filhos dessas Políticas. Um exemplo específico: em uma proposta de redação aplicada para quase duzentos alunos de Ensino Médio, observamos textos que seguem um mesmo padrão: a mesma estrutura textual e as mesmas idéias reinando nessa estrutura. Em 90 % das redações, os alunos repetiram a mesma narrativa cujo personagem deveria, por mérito próprio e individualmente, vencer todos os obstáculos sociais e financeiros que lhe apareciam, alcançando, assim, a tão sonhada ascensão social e o seu lugar “ao sol”, a felicidade. Idéias que não nasceram dos próprios discentes, mas que estão circulando pela televisão e outras mídias; em novelas, filmes de péssima qualidade, músicas vazias ou com alto teor de vulgaridades e chulas. Idéias construídas ideologicamente e que, pelo visto, concretizam bem a função de se arraigarem nas pessoas. Enquanto acharem que melhores condições de vida dependem de perseverança e de esforços individuais, linhas ideológicas do Neoliberalismo, muito provavelmente tais alunos não terão as mínimas chances de alcançar uma situação financeira mais adequada à sobrevivência.

Nossa escola atual desempenha bem seu papel de aparelho ideológico do Estado. As ideologias neoliberais encontram o empobrecimento da criatividade e da habilidade para criar textos estruturalmente ricos, o que é produzido pelas Políticas Pedagógicas do Estado. Como seguir uma Orientação Curricular que pretende partir de textos lidos pelos alunos quando não temos muitos alunos leitores ou temos leitores de textos ruins? Não caberia à Escola apresentar o que não é oferecido ao aluno nas ruas ou em casa? Ou o Estado objetiva colaborar com a manutenção da ordem vigente? Penso que é exatamente isso o que as Políticas têm realizado – contribuído para a manutenção da ordem econômico-social via empobrecimento educacional e intelectual. Nesse sentido, sim, a unanimidade tem sido burra e servido aos propósitos do capital.

Patrícia Acs
Professora de Língua Portuguesa e Literatura