segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
Nome aos bois brancos
ESPAÇO ABERTO
Debate de idéias – Informativo da Associação dos Docentes da UFMT – Adufmat - nº 225/2011
NOMES AOS BOIS BRANCOS
Roberto Boaventura da Silva Sá
Dr. em Ciência da Comunicação/USP e Prof. da UFMT
rbventur26@yahoo.com.br
Em artigos anteriores, já evidenciei minha intolerância aos racistas de todas as cores. Por isso, passei a questionar a produção/manipulação de discursos sobre as cotas. Assim, ouvi atento o programa “Quando o dia vem: a luta social dos negros no Brasil”, que a Rádio Senado (FM 102,5 Mhz) apresentou nos dias 18 e 25 pp., comemorando a honesta e importante luta de Zumbi: líder de todos os negros, não apenas de uma parte.
Diante dessa postura, e após identificar colegas – também negros – racistas no meio acadêmico, passei a indagar o conteúdo de alguns números obtidos por pesquisas, tanto do IBGE quanto de grupos de estudos de universidades públicas, como um Relatório Anual das Desigualdades.
Mas antes de quaisquer questões sobre esses números, que expõem inferioridade social dos negros em relação aos brancos, gostaria de saber quem é mesmo genuinamente branco, preto, amarelo, índio...? Talvez, se chegássemos a uma resposta irrefutável, tudo ficaria ainda mais complexo para encaminhamentos de políticas públicas. E aí, a luta por cotas, levada a cabo, no grito, e até no braço, por parte de alguns movimentos negros, pudesse abranger todos os brasileiros pobres, qualificando a educação pública desde as séries iniciais.
Isso posto, passo a pontuar alguns dos itens destacados nas pesquisas. É dito que, em geral, um negro recebe metade do salário de um branco pelo mesmo trabalho. Onde? Suponho que seja nas empresas privadas, pois no serviço público isso não ocorre. Se for, quais são as empresas que cometem o crime de racismo? Se os movimentos têm as informações são obrigados a publicá-las, a denunciar os racistas brancos à justiça. Ah, alguém lembraria: na justiça, os números também são adversos aos negros, tanto que “é comum os réus ganharem as ações”.
Se é assim, boca no trombone. Trombone e holofotes não faltam aos movimentos negros com recortes raciais; e não faltam porque essa luta que fragmenta, destruindo a luta conjunta dos trabalhadores, interessa à mídia comercial, representante legítima do capital. Todavia, embora improvável, se a mídia “de brancos” não der espaço às denúncias, vamos à internet; vamos às mídias alternativas, para as quais as cores da pele são mais diluídas. Quem quer se comunica.
Outro dado me inquietou: da saúde, é dito que o não-atendimento pelo SUS entre os negros é de 27%; entre brancos, de 14%. Pergunto: esses números estão dizendo que há atendentes e médicos racistas? Se é isso, por que os movimentos não denunciam as unidades e os servidores envolvidos ao Ministério e às Secretarias Estaduais de Saúde? Ou já denunciaram? Se sim, onde? Quando? Quem foi denunciado?
Mais: que 40,9% das mulheres negras nunca fizeram mamografia contra 22,9% das brancas. Por que? Porque são negras ou porque nunca procuraram o serviço? Fiquei na dúvida, mas não posso crer facilmente que num posto do SUS isso ocorra de forma tão descarada. Por isso, a interpretação mais adequada desses números pode não estar sendo feita.
Pois bem. Sem duvidar das pesquisas, mas sabendo da paixão e dos interesses que movem algumas lideranças, desafio os movimentos que apostam na luta da raça – e não da luta classista – que passem a dar nomes aos bois brancos. Isso já é feito com o trabalho escravo e a exploração infantil.
Enfim, vamos encurtar a luta? Ou encurtar a luta não interessa a líderes e pesquisadores que recebem altos financiamentos – de ONGs, governos e empresas – para estudar raça e dividir a classe? Quem me responderá essas indagações?
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